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blue eyes

O nome desta gaita, não interessa para nada. Interessa aquilo que aqui for postando dia a dia, ou à noite...Como só tenho um neurónio disponível, é muito certo que saia asneira de vez em quando, ou quase sempre...

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O nome desta gaita, não interessa para nada. Interessa aquilo que aqui for postando dia a dia, ou à noite...Como só tenho um neurónio disponível, é muito certo que saia asneira de vez em quando, ou quase sempre...

14.Out.08

Dedicatória

Dona das Chaves
A vida lá em casa, era maravilhosa! Havia paz, muito riso, muita cumplicidade, muita brincadeira e muito amor! Os fins de semana eram passados em família, em casa, ou no monte em comunhão com a natureza. As brincadeiras com os miúdos era muito divertidas, de vez em quando deixava-os ganhar os jogos que eles próprios inventavam, só para ver aquelas caras alegres. Os anos iam passando, os miúdos crescendo e os estudos roubavam-lhes algum tempo, assim como os passeios com os amigos, os namoricos eram conversa habitual. Nunca reclamei, era o ciclo natural da vida, e continuámos sempre a divertir-nos quando estávamos em família. Nunca faltou nada lá em casa, e era isso que importava.
Um dia, a minha saúde mudou, e as coisas por casa também mudaram. Subitamente, onde havia amor, carinho, cumplicidade, brincadeira, passou a haver desconfiança e afastamento. Não entendi a razão, perguntava-me porquê? Comecei a ouvir conversas em surdina, outras vezes os semblantes mudavam quando eu entrava, mas porquê, se era uma doença simples, cujo tratamento seguido á risca iria fazer com que voltasse tudo a ser como antes. No entanto, não era esse rumo que as coisas estavam seguir. Continuavam indiferentes, muitas vezes perguntei porquê, mas nunca me responderam. A minha saúde foi ficando cada vez mais fraca, o medicamento acabou e não se comprou mais, a falta da vida de antes, fazia com cada dia ficasse pior. Um dia, achei que tudo ia voltar a ser como antes, afinal no fim de semana íamos para o monte, éramos novamente uma família. No caminho, parámos naquela vila onde era habitual, para esticar as pernas, e apanhar um pouco de ar. Estava distraído a olhar os patos no lago, como era habitual, gostava de os ver sempre muito aprumadinhos, alisando as penas, mergulhando, enfim vida de pato. De repente senti um silêncio, um frio na espinha. Olhei para trás, e não os vi. Fui até ao estacionamento ver se me esperavam no carro, mas o carro não estava lá. O que se estava a passar, estariam a brincar? Só podia. Deixei-me ficar, afinal não adiantava sair, se voltassem podíamos desencontrar-nos. Passaram-se longos minutos, que deram lugar a horas, não estava a entender, que se estava a passar? Comecei a ficar com fome, resolvi procurar o que comer, mas de repente todos olhavam para mim de lado, outros afastavam-se e até puxavam as crianças pelo braço com força. Ia andando, resolvi tomar o caminho para casa, quem sabe voltassem para trás e não estando no jardim, resolvessem também ir para casa, para nos encontramos. Os carros apitavam-me, entrei num portão aberto, resolvi que iria ali pedir algo para matar a fome, mas quando me viram, correram comigo, ofenderam-me, atiraram pedras, chamaram-me Sarnento... Então percebi... Aqueles que em tempos tinham sido a minha família, abandonaram-me, foram embora, deixaram-me ficar para trás porque eu tinha sarna. Senti uma dor tão grande. Porquê? Porquê? Que fizeram aos momentos felizes, às alegrias partilhadas? Só me apetecia chorar, a fome cada vez mais me torturava... Fui caminhando, entrava em algumas portas, era logo escorraçado, sempre chamado de sarnento. Os carros apitavam, outros quase me atropelaram, também já não importava... agora estava por minha conta... e nem a fome conseguia saciar, aquela doença que teimava em me fazer coçar cada vez com mais frequência, sem tratamento não iria abandonar-me... Porquê? Porquê eu? Continuei no caminho, cada vez mais fraco... até onde iria, não sei, mas continuei...
Dedicado a ti, que caminhavas naquela estrada, com o ar mais triste do mundo, que um dia tiveste um lar, mas que foste abandonado ao teu destino, porque aqueles que te amaram um dia, não tiveram a capacidade de te ajudar... Perdoa-me por também eu não te puder ajudar... acredita que me dói, ter passado e ver-te nesse sofrimento, acredita que maldigo os que te deixaram no caminho...

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