15.Ago.09
Uma vida pode mudar em segundos...
Dona das Chaves

Hoje faz 16 anos que eu me estampei, literalmente. Uma paragem digestiva, provocada por uma garrafa de água gelada (foi o calor de Agosto, que estava como este ano), foi o suficiente para eu me estatelar contra um morro, e cair da mota dentro da estrada, numa curva. Tive sorte que alguém conhecido passou do lado contrário e me encontrou, e enfim daí até ao hospital ainda vai mais um metro de história. Este acidente mudou toda a minha vida, não porque deixasse marcas, que essas eram só pequenas queimaduras do alcatrão e um traumatismo craniano, mas passou rapidamente. Recuperei bem do acidente, mas mudei, perdi alguns interesses anteriores, e mudei intelectualmente. Quem sabe não tivesse tido o acidente e os anos seguintes teriam sido mais felizes, a nível pessoal. O que eu perdi por ter deixado que o acidente interferisse, quando não teve razões para tal. Ou que perdi por deixar que alguém se intrometesse na minha vida, mas ter 19 anos é daquelas coisas, em que ainda não mandamos em nós, e deixamos que a família se intrometa em coisas que deveria manter distância. Raio de mentalidade retardada...
Hoje estou bem, mas há uma parte do passado após o acidente que ainda provoca algum desconforto, coisas que poderiam ter sido evitadas, sofrimentos que deixarão marcas eternas. Foram quase 12 anos, de mágoa, de vida a escorrer por um canudo, até que consegui por os pés no chão e dizer basta, sou eu que comando a minha vida, sou que escolho quem quero ou não a meu lado, se quero ou não uma vida de sacrifício e de pancada. Passados estes anos, levei duas grandes lições: nem sempre amamos quem temos ao nosso lado, e nem sempre temos ao nosso lado quem amamos. Durante quase doze anos vivi um relação com alguém que afinal eu não amei, e ainda hoje não entendo como achei que era amor um sentimento que só me destruiu. Quando finalmente descobri o que era amor, quando encontrei aquela pessoa por quem seria capaz de mover o mundo só com um dedo, quando a vida me parecia sorrir, essa pessoa não ficou ao meu lado, magoou-me mais que quem me bateu vezes sem conta, magoou-me mais que quem me rebaixava, e me dizia coisas que me lembram a ninguém. Magoou-me sem me tocar com um dedo, magoou-me da pior forma que havia, sem uma palavra, sem um gesto, apenas o acto em si, foi mais do que eu podia suportar. E como um acidente sem grandes mazelas físicas pode mudar tanto uma vida.